A dengue é uma doença viral considerada uma das principais causas de morbidade em países tropicais e subtropicais. O Brasil é o país com o maior número de casos de dengue no mundo, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). No contexto pediátrico, a dengue apresenta características particulares que exigem atenção diferenciada dos profissionais de saúde.
Em crianças, principalmente abaixo dos 2 anos, o início da doença pode passar despercebido e o quadro grave pode ser identificado como a primeira manifestação clínica. O agravamento, em geral, é súbito, e os sinais de alarme anunciam a iminência de choque.
Manifestações clínicas
Todo caso suspeito de dengue deve ser notificado à Vigilância Epidemiológica, sendo imediata a notificação das formas graves da doença.
A dengue em crianças pode ser assintomática ou apresentar-se como uma síndrome febril clássica viral com sinais e sintomas inespecíficos: adinamia, sonolência, recusa da alimentação e de líquidos, vômitos, diarreia ou fezes amolecidas. Nos menores de 2 anos de idade, especialmente em menores de seis meses, sintomas como cefaleia, dor retro-orbitária, mialgias e artralgias podem manifestar-se por choro persistente, adinamia e irritabilidade, geralmente com ausência de manifestações respiratórias, podendo-se confundir com outros quadros infecciosos febris, próprios dessa faixa etária.
Sinais de alerta (exigem observação rigorosa):
- Dor ou sensibilidade abdominal
- Vômito persistente
- Acúmulo de líquido (derrame pleural, derrame pericárdico)
- Sangramento de mucosa
- Alterações do nível de consciência (sonolência / irritabilidade)
- Desconforto respiratório
- Aumento do fígado> 2 cm
- Laboratório: aumento de hematócritos com diminuição rápida na contagem de plaqueta
- Extravasamento grave de plasma levando a:
- Choque (DSS)
- Acúmulo de fluido com desconforto respiratório
- Sangramento severo
- Envolvimento grave de órgãos
- Fígado: AST ou ALT> = 1000
- Alteração do nível de consciência
- Coração e outros órgãos
Desenvolvimento da Dengue
A dengue é dividida em três fases (febril, crítica e de recuperação), sendo que na fase crítica podem surgir os sinais de alarme que, normalmente, indicam aqueles pacientes com maior probabilidade de evoluir para formas mais graves da doença.
Todo o raciocínio clínico desenvolvido para o paciente com dengue deve ser guiado pela fase em que ele se encontra. Para caracterizar a fase da doença em que o paciente se encontra, deve ser avaliado o tempo de febre em dias, se há presença de sinais de alerta e avaliação do hemograma. A fase crítica é marcada pela presença de sinais de alerta e aumento do hematócrito, que representam extravasamento plasmático. Geralmente, ocorre queda de plaquetas por mecanismo de consumo e imune. No primeiro episódio de dengue a fase crítica ocorre, frequentemente, entre o 3º e 6º dia de evolução da febre, mas em casos secundários pode ocorrer nos primeiros dias de sintomas. Sabe-se que a forma grave da doença também pode estar relacionada a infecções sequenciais por diferentes sorotipos, já que a resposta imunológica na segunda infecção pode ser exacerbada.
Figura 1. Quadro ilustrativo da evolução clínica e laboratorial da infecção pelo vírus da dengue. Fonte: World Health Organization – WHO (2009), com adaptações.
Vacina da Dengue
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda a vacina QDENGA contra a dengue preferencialmente para imunizar crianças e adolescentes. Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o imunizante é aplicado em duas doses, com intervalo de três meses, e destinado a indivíduos de 4 a 60 anos de idade.
O Ministério da Saúde incorporou a vacina ao Sistema Único de Saúde (SUS) e irá priorizar a faixa etária de 6 a 16 anos na aplicação que iniciará a partir de fevereiro. O público prioritário foi recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização.
Uso de Repelentes em Crianças
Utilizar repelentes caseiros produzidos com cravo da índia, óleo de eucalipto e até citronela podem trazer complicações para as crianças e adolescentes, como reação alérgica ou dermatite de contato.
No Brasil, os repelentes são registrados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como cosméticos com ação de repelência, conforme as regras da RDC 19, de 10 de abril de 2013.
Além da N,N-DIETIL-META-TOLUAMIDA ou N,N-DIETIL-3-METILBENZAMIDA (DEET), são utilizadas em cosméticos as substâncias repelentes Hydroxyethyl isobutyl piperidine carboxylate (Icaridin ou Picaridin) e Ethyl butylacetylaminopropionate (EBAAP ou IR3535), além de extrato vegetal ou óleo de Cymbopogon (Citronela).
O uso de repelentes tópicos em lactentes acima de 6 meses está restrito a uma aplicação ao dia. Entre 1 e 12 anos podem ser utilizadas duas aplicações ao dia e a partir de 12 anos de idade, podem ser realizadas duas a três aplicações ao dia e nunca deve ser aplicado nas mãos da criança. Em crianças com mais de 2 meses em situações de exposição intensa e inevitável a insetos, sempre deve ser considerado o risco e o benefício, pois apesar de ser liberado pelas agências de regulação há escassez de artigos científicos que avaliem a segurança de repelentes nesta faixa etária.
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O objetivo é capacitar o pediatra a realizar uma avaliação inicial precisa e a tomar as condutas adequadas antes de considerar o encaminhamento para um especialista.
Texto aprovado pelo coordenador do Multiplica PP – Dr. Victor Horácio de Souza.
Referências bibliográficas:
https://pequenoprincipe.org.br/noticia/dengue-em-criancas-sinais-de-alerta-e-como-prevenir/
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Abordagem da Criança com Dengue na Emergência. Rio de Janeiro, 23 fev. 2024. https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-crianca/abordagem-da-crianca-com-dengue-na-emergencia/
Dengue diagnóstico e manejo clínico criança – Ministério da Saúde – Secretaria de Vigilância em Saúde – Departamento de Vigilância Epidemiológica – Brasília – DF 2011
Dengue – Departamento Científico de Infectologia (2016-2018), Departamento Científico de Emergência (2016-2018) e Departamento Científico de Terapia Intensiva (2016-2018) – Sociedade Brasileira de Pediatria – Setembro de 2019
Atualizações em Dengue – Departamentos de Infectologia e Imunizações – Sociedade Mineira de Pediatria – Boletim Eletrônico Informativo – Fevereiro de 2024 – nº 69 https://smp.org.br/wp-content/uploads/boletim_cient_smp_69-2.pdf
https://site.cff.org.br/noticia/noticias-do-cff/01/03/2024/orientacoes-sobre-o-uso-de-repelentes