O transporte do paciente pediátrico ou neonato grave é parte integrante de seu tratamento e é de fundamental importância que ele seja adequadamente planejado e realizado para garantir a estabilidade e a não deterioração do estado clínico da criança até chegar ao serviço de destino.
Falhas e intercorrências durante o transporte podem gerar grande prejuízo a saúde e continuidade do tratamento do paciente. Por isso, o preparo para o transporte é, sem dúvida, uma das mais importantes fases do procedimento e deve ser feito com o maior cuidado e riqueza de detalhes possíveis. É imprescindível o contato entre médicos do serviço de origem e destino e todas as condições do paciente (histórico, quadro clínico, diagnóstico, sinais vitais e exame físico, medicações habituais, sondas e cateteres, uso de drogas e exames subsidiários).
Há uma necessidade diária em transportar pacientes para exames complementares e intervenções cirúrgicas, e garantir a segurança do paciente é de extrema importância, para mantê-lo longe de riscos e eventos adversos.
Tipos de transporte
Transporte inter-hospitalar ocorre entre unidades de saúde, quando há necessidade de cuidados intensivos ou procedimentos indisponíveis na unidade de origem e podem ser direcionados a unidades públicas ou privadas de maior complexidade. São transferências definitivas ou temporárias para realização de abordagens diagnósticas e /ou cirúrgicas.
REGRA FUNDAMENTAL 1: Apenas transportar a criança ou neonato estável
Caso os riscos se sobreponham aos benefícios, o transporte poderá ser adiado, até que seja possível realizá-lo com segurança.
REGRA FUNDAMENTAL 2: Equipe especializada
Crianças gravemente doentes devem ser transportadas na companhia de médico pediatra ou neonatologista, enfermeiro e, não obrigatoriamente, um técnico de enfermagem. Os profissionais de saúde envolvidos no transporte devem dispor de conhecimento e habilidade para procedimentos de urgência e emergência para a qualidade da assistência e segurança do paciente. Estar ao lado dela por todo o tempo, observando veias puncionadas, frequência cardíaca, oximetria de pulso, glicemia, temperatura e o estado geral.
O transporte intra-hospitalar é mais frequente, pois ocorre dentro da instituição. Realizado apenas entre setores, para intervenções diagnósticas, cirúrgicas ou para transferência do setor de origem para outro setor de maior ou menor complexidade dentro da própria instituição. Importante ressaltar, mesmo dentro do ambiente hospitalar, a equipe responsável pelo transporte deve ser treinada para lidar com qualquer tipo de imprevisto como a equipe do transporte inter-hospitalar, pois os cuidados na assistência no transporte são os mesmos.
As principais demandas do transporte intra-hospitalar estão relacionadas a doenças respiratórias, cardiovasculares, infecciosas, doenças gastrintestinais, malformações geniturinárias, alterações neurológicas e síndromes genéticas ou cromossômicas.
Intercorrências durante o transporte
As intercorrências passíveis de ocorrer durante o transporte inter ou intra-hospitalar podem ser classificadas em: alterações fisiológicas ou clínicas e intercorrências relacionadas ao equipamento e/ou à equipe de transporte.
Em relação à deterioração fisiológica ou clínica, destacam-se: as alterações significativas dos sinais vitais como frequência cardíaca e respiratória, pressão arterial, saturação de oxigênio, pressão parcial de oxigênio, do gás carbônico e temperatura. Tais alterações podem ser definidas de várias maneiras. A primeira delas é diante da modificação de 20% ou mais das medidas basais, sendo o emprego dessa definição aplicado em maior escala no transporte de pacientes adultos. Para crianças menores, a alteração dos sinais vitais em duas vezes o desvio padrão é considerada como significativa, podendo ser classificada em “minor”, quando não requer terapia imediata, ou em ”major”, quando há necessidade de terapia imediata.
Dentre os episódios adversos relacionados ao equipamento e à equipe, incluem-se as intercorrências que poderiam ser evitadas por meio de um planejamento adequado para o transporte, por exemplo, o deslocamento, a perda ou a obstrução da cânula traqueal, a perda ou o deslocamento de drenos torácicos, de sondas e cateteres, o pneumotórax por variação de fluxo ou volume das ventilações manuais ou do aparelho de ventilação, o não funcionamento adequado dos equipamentos e o término do oxigênio antes do tempo previsto, entre outros.
Entretanto, mesmo com a adequada estabilização clínica do neonato, certas condições inerentes ao transporte, tais como barulho excessivo, vibrações e alterações de temperatura constituem-se em riscos adicionais, que podem comprometer a estabilidade do recém-nascido durante o transporte. Os efeitos dessas vibrações mecânicas no recém-nascido, principalmente no prematuro, são desconhecidos. Sabe-se que, no adulto, tais vibrações estão relacionadas à alteração de pressão sanguínea e a complicações respiratórias, como o edema pulmonar.
Curso :: Transporte em Pediatria e Neonatologia
O curso Transporte em Pediatria e Neonatologia, do Multiplica PP, tem o intuito de capacitar profissionais da saúde a atuarem de forma sistêmica no transporte de pacientes pediátricos e neonatos a fim de minimizar os riscos de sequelas ou até mesmo óbitos.
O transporte de pacientes neonatos e pediátricos quando mal executado pode apresentar riscos adicionais, portanto esse tipo de manejo deve ser visto como uma extensão dos cuidados intensivos prestados. As complicações podem ser o agravamento da condição fisiológica e/ou clínica preexistente do paciente.
Texto aprovado pelo coordenador do curso Transporte em Pediatria e Neonatologia – dr. Eduardo Gubert
Referência bibliográfica:
https://espacoparasaude.fpp.edu.br/index.php/espacosaude/article/view/620/pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_orientacoes_transporte_neonatal.pdf
Transporte intra-hospitalar de pacientes internados em UTI Neonatal: fatores de risco para intercorrências – Anna Luiza P. Vieira, Ruth Guinsburg, Amélia Miyashiro N. Santos, Clóvis de Araújo Peres, Mayra Ivanoff Lora, Milton Harumi Miyoshi – Revista Paulista de Pediatria 25 (3) – Set 2007 – https://www.scielo.br/j/rpp/a/w4ZCxNmvPvS6WwXvnx9Qxvh/?lang=pt
Dificuldades no transporte inter-hospitalar de recém-nascido crítico realizado pelas equipes do serviço de atendimento móvel de urgência – Aldiânia Carlos Balbino, Maria Vera Lúcia Moreira Leitão Cardoso – Texto Contexto Enferm, 2017; 26(3):e0790016 – https://www.scielo.br/j/tce/a/6RxL9vXMDyHqmLVn8skvxhf/?format=pdf&lang=pt
Transporte Neonatal de Alto Risco: Uma Revisão da Literatura – Cássio Baptista Pinto, Deise Conrad, Beatriz Gerbassi da Costa Aguiar, Wania Maria Antunes Ramos – Revista Acreditação – ISSN 2237-5643 v. 7, n. 13 (2017)