Condutas no Consultório :: Asma grave

A asma também conhecida como bronquite, bronquite asmática ou bronquite alérgica, é uma doença muito frequente na pediatria, definida como uma doença inflamatória crônica das vias aéreas que conduzem o ar do meio ambiente até o pulmão, mediada por várias células do corpo como linfócitos, eosinófilos e mastócitos. Este conjunto de elementos promovem um processo inflamatório desencadeado por agentes ambientais como inalação de poeira, bolor, poluição atmosférica, agentes virais e até ar frio do inverno. O processo consiste num estreitamento das vias aéreas inferiores e também superiores, pois muitos pacientes também apresentam sintomas nasais presentes nas rinites. É caracterizada com episódios de sibilância (chio de peito), falta de ar, aperto no peito e tosse. Um estudo epidemiológico recente realizado no Brasil com adolescentes de 12 a 17 anos identificou 13% de prevalência de asma, com variação regional, predominando na Região no Sul do país (19,8%).

 

A falta de controle adequado da asma, favorece as exacerbações ou crises. Deve-se lembrar que as crises são episódicas, mas o processo inflamatório é contínuo e precisa ser controlado. A imediata identificação dessa situação e o início precoce com a terapêutica broncodilatadora e anti-inflamatória contribuem para uma menor morbimortalidade. O tratamento de manutenção da asma visa o controle dos sintomas, a promoção de qualidade de vida e a prevenção das exacerbações.

Tratamento

O tratamento da asma de qualquer intensidade, se concentra no controle dos sintomas, e principalmente, controlar a inflamação das vias respiratórias e prevenir danos aos pulmões. A base do tratamento consiste em 2 etapas: A primeira, controle ambiental, fundamental para evitar os gatilhos, e a segunda é o acompanhamento médico, com a indicação do medicamento correto tanto para alívio dos sintomas na fase aguda como para prevenção de novas recorrências com os medicamentos ditos preventivos. 

Objetivos do tratamento da asma:

  1. Controlar os sintomas
  2. Possibilitar atividades normais na escola e no lazer
  3. Manter função pulmonar normal ou a melhor possível
  4. Evitar episódios agudos, atendimentos em emergências e hospitalizações
  5. Reduzir a necessidade de uso de broncodilatador para alívio dos sintomas
  6. Minimizar efeitos adversos da medicação
  7. Atender às expectativas do paciente e da família com o tratamento
  8. Evitar a morte

Medicamentos disponíveis para o tratamento da asma

  1. Broncodilatadores: beta-agonistas, xantinas e anticolinérgicos
    As medicações broncodilatadoras não têm ação anti-inflamatória, reservando-se seu uso para situações de resgate, de alívio dos sintomas, para prevenir a obstrução e em associação com a medicação tópica na asma de difícil controle.

  2. Antagonistas dos leucotrienos (montelucaste e zafirlucaste)
    Droga anti-inflamatória administrada por via oral para reduzir a hiperresponsividade brônquica. As principais indicações de seu uso seriam aos pacientes que não conseguem utilizar a via inalatória, nos casos de broncoespasmo induzido por exercícios, como medicação alternativa na asma persistente leve e como suplementar na asma persistente grave não controlada. É importante salientar que esta droga em particular, NÃO devem ser usadas como monoterapia, e sim associada a outro medicamento como corticóide inalatório.

  3. Corticosteróides sistêmicos
    São fundamentais nas exacerbações (crise de asma) quando não há resposta adequada aos broncodilatadores ou à medicação de manutenção basal. Nas agudizações da asma, o uso precoce de corticosteróides sistêmicos frequentemente aborta a exacerbação, diminui a necessidade de hospitalização, previne a recidiva e acelera a recuperação.

  4. Corticosteróides inalatórios
    É a principal ferramenta para o controle da asma em todos os pacientes, pois é um medicamento que reduz a inflamação, pois age diretamente nas vias aéreas inflamadas possibilitando maior eficiência com menor dose de medicamento pois atua topicamente, sendo utilizado na formulação de aerossol e pó para ser inalado pelo paciente. 

Asma grave

A asma grave é um tipo de asma que não responde ao tratamento padrão para asma. Os sintomas, por definição, são mais intensos do que os sintomas regulares e podem durar por períodos prolongados. Pessoas que sofrem de asma grave geralmente consideram seus sintomas persistentes e difíceis de controlar. A força-tarefa da American Thoracic Society e da European Respiratory Society definiu asma grave como a asma que requer tratamento com altas doses de corticosteroide inalado (CI), associado a um segundo medicamento de controle (e/ ou corticosteroide sistêmico), para impedir que se torne “descontrolada” ou permaneça “descontrolada” apesar do tratamento. As crianças com asma grave apresentam maior risco de resultados adversos, incluindo efeitos colaterais relacionados a medicamentos, exacerbações com risco de vida e qualidade de vida prejudicada. Entre as crianças de 5 a 17 anos, a asma é uma das causas mais comuns de perda de aulas, comprometimento do desempenho acadêmico, assim como da participação em atividades relacionadas à escola.  

Remodelamento brônquico

Um efeito potencial a longo prazo da asma grave, e particularmente mal controlada, é uma condição chamada remodelamento brônquico.

A presença de inflamação crônica persistente em vias aéreas asmáticas já é bem estabelecida e envolve diferentes tipos de células que modulam o processo inflamatório. Todo processo inflamatório crônico envolve cicatrização e formação de fibrose, e isto, não é diferente nas vias aéreas. A via aérea saudável tem uma dilatação e um fechamento de seu diâmetro conforme as necessidades do dia a dia, como atividade física, onde elas dilatam e após o término, elas voltam ao diâmetro original. O remodelamento brônquico torna a via aérea dura, pouco elástica, e com isto, o portador de asma tem uma limitação crônica a seu ato de respirar, sendo mais evidente nas atividades físicas como subir escadas e nos casos graves, até andar. 

Na asma é fundamental medição da função pulmonar através da espirometria, um equipamento que mede quantos litros o paciente sopra comparando com a população saudável para quantificar sua capacidade respiratória.  Além disso, alguns estudos mostraram que certos pacientes têm alteração persistente da função pulmonar, mesmo com a doença controlada, indicando que a percepção dos sintomas pelo paciente crônico é desproporcional ao seu grau de acometimento, em outras palavras, o paciente se acostuma com suas limitações e começa achar que isto é normal. 

Sobre o curso

O curso Atualização em Condutas no Consultório Pediátrico, é uma atualização, projetada para capacitar médicos de família e pediatras com as mais recentes práticas, conhecimentos e habilidades essenciais para aprimorar o atendimento em consultórios pediátricos. Desde estratégias de diagnóstico e tratamento até as últimas tendências em cuidados infantis, esse curso proporciona uma atualização integral, preparando os profissionais para oferecerem um cuidado de excelência, abordando as complexidades contemporâneas da pediatria com confiança e competência.

Texto aprovado pelo chefe do Serviço de Pneumologia do Hospital Pequeno Príncipe, dr. Paulo Kussek.  

Referências bibliográficas:

Asma aguda grave na criança – Jefferson P. Piva, Simone F. Canani, Paulo M.C. Pitrez, Renato T. Stein – Jornal de Pediatria Vol. 74, Supl. 1, 1998 – 0021-7557/98/74 – Supl.1/S59

Abordagem da exacerbação da asma em pediatria – Mônica Firmida e Daniela Borgli – – Revista de Pediatria SOPERJ ISSN 1676-1014 | e-ISSN 2595-1769

http://revistadepediatriasoperj.org.br/detalhe_artigo.asp?id=1034 

Guia prático de abordagem da criança e do adolescente com asma grave: Documento conjunto da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia e Sociedade Brasileira de Pediatria – Herberto J. Chong-Neto, Gustavo F. Wandalsen, Antonio C. Pastorino, Caroline Dela Bianca, Débora C. Chong-Silva, Carlos A. Riedi, José Dirceu Ribeiro, Nelson A. Rosário, Fábio C. Kuschnir, Emanuel C. Sarinho, Neusa F. Wandalsen, Fernanda C. Lanza, Adriana A. Antunes, Maria de Fátima P. March, Renato Kfouri, Luciana R. Silva, Flávio Sano, Dirceu Solé –   Arquivos de Asma, Alergia e Imunologia – Vol. 4, N° 1, 2020

Asma Pediátrica – Responsabilidade médica sobre a conscientização dos pais e pacientes (1) – Sociedade Brasileira de Pediatria – Núcleo Gerencial do Departamento Científico de Pneumologia da SBP

Remodelamento brônquico na asma – Thais Mauad, Sandrini Lopes de Souza, Paulo Hilário Nascimento e Marisa Dolhnikoff – Artigos de Revisão • J. Pneumologia 26 (2) • Abr 2000

https://www.scielo.br/j/jpneu/a/Lhw3VRCXmWknXxJKJCm57Sc/

Tratamento atual de crianças com asma crítica e quase fatal – Steven L. Shein, Richard H. Speicher, José Oliva Proença Filho, Benjamin Gaston, Alexandre T. Rotta – ARTIGO DE REVISÃO • Rev. bras. ter. intensiva 28 (02) • Apr-Jun 2016

https://www.scielo.br/j/rbti/a/HRSv9vZqS6pC59SDGmGyLLx/

https://pt.gaapp.org/diseases/asthma/severe-asthma/

 

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