Atualização em Dermatologia Pediátrica :: Doenças Exantemáticas, como Diferenciá-las.  

Exantema define-se como uma erupção cutânea aguda e constitui um sinal ou sintoma muito comum em pacientes de idade pediátrica, sendo um dos quadros mais comuns no serviço de urgência e emergência. Contudo, na prática clínica, o seu diagnóstico torna-se um desafio diante de diferentes possibilidades etiológicas e pelo polimorfismo de sua apresentação. As causas variam desde doenças infecciosas por agentes como vírus, bactérias, fungos e protozoários até não infecciosas como reações medicamentosas, doenças autoimunes e neoplasias. Abaixo, descrevemos brevemente, as formas mais clássicas apresentadas na infância – doenças exantemáticas infecciosas causadas por vírus.

Panorama das Doenças Exantemáticas em Decorrência de Infecções Virais

Estudos mostraram que 65% das crianças avaliadas com exantema e febre apresentavam um agente infeccioso em sua etiologia. Desses, 72% têm decorrência de infecções virais. Apesar de a maioria dos exantemas ter um curso benigno e autolimitado, há situações em que a não realização do diagnóstico pode cursar com atraso na intervenção e consequente piora do prognóstico.

Diante da ampla possibilidade etiológica é aconselhável que se adote uma anamnese sistemática iniciando por meio de uma história clínica completa.  Certas características do paciente, do meio em que vive e da evolução do exantema auxiliam de forma significativa o diagnóstico etiológico. A faixa etária ajuda na diferenciação das causas prováveis do exantema, assim como o conhecimento acerca do histórico vacinal, essencial para descartar ou mesmo alertar quadros clínicos causados por doenças imunopreveníveis, como o sarampo, rubéola, varicela, febre amarela e meningococcemia.

Tendo em conta as características das lesões, os exantemas podem ser:

  1. Maculopapulares: constituem o grupo mais vasto das doenças exantemáticas. Caracterizam-se por máculas ou pápulas eritematosas com diâmetro habitualmente menor que 1 cm. Podem ser víricos, paravíricos, bacterianos e outros (infeciosos e não infeciosos).
  2. Vesico-bolhosos: vesículas ou bolhas com conteúdo habitualmente seroso.
  3. Purpúrico-petequiais: lesões violáceas que não desaparecem à digitopressão. Podem dividir-se num grupo com perda da integridade vascular e outro com alterações da hemóstase.

Sarampo

É uma doença de notificação obrigatória, causada por um paramixovírus do gênero Morbilovirus e com transmissão por via aérea. Apresenta um período de incubação médio de 13 dias e os principais sintomas são febre alta, mal-estar, anorexia, conjuntivite (com fotofobia e lacrimejo), rinorreia, odinofagia e tosse seca. O exantema, que surge tipicamente 2 a 4 dias após o início da febre, é eritematoso e maculopapular com disseminação cefalocaudal e centrífuga com máxima intensidade no 3º dia desaparecendo em 4-6 dias. Apresenta sinal de Koplik na mucosa bucal. O tratamento é sintomático. Cerca de 30% dos casos notificados de sarampo envolvem uma ou mais complicações. Estas podem ser causadas pelo próprio vírus do sarampo ou por uma infecção bacteriana.

A melhor forma de prevenção é a vacina. No entanto, partir de 2016, vários estados do Brasil apresentaram queda na cobertura vacinal e novos surtos de sarampo voltaram a ser identificados no país depois de muitos anos.

Rubéola

Também é uma doença de notificação obrigatória, causada por um vírus do gênero Rubivirus e com transmissão por meio de gotículas. Apresenta um período de incubação médio de 14 a 18 dias. O exantema tende a surgir cerca de 14 a 17 dias após a exposição e caracteriza-se por ser maculopapular, muito similar ao sarampo, de início súbito, por vezes precedido ou acompanhado por febre baixa e linfadenopatias (tipicamente cervicais, retro auriculares e occipitais). A progressão do exantema é cefalocaudal num período de 24 horas e desaparece em 1 a 3 dias. Nas crianças pequenas a doença é ligeira ou mesmo assintomática, enquanto que os adolescentes podem apresentar artrite, conjuntivite, tosse ou rinorreia. As complicações são raras e a principal forma de prevenção da rubéola é a vacinação.

Imagem: msdmanuals

Síndrome da rubéola congênita (SRC): Quando a mãe é infectada durante as primeiras 20 semanas de gravidez, a criança pode nascer com síndrome da rubéola congênita. É caracterizado pela tríade: cegueira, malformações cardíacas e surdez. Podem ser associados também: distúrbios de comportamento, distúrbios cognitivos, atraso no crescimento, doença óssea, aumento do fígado e do baço, trombocitopenia e lesões roxas na pele. É uma doença de baixa incidência, no entanto, até 90% das crianças nascidas de mães infectadas no primeiro trimestre, irá desenvolver anomalias físicas.

Varicela

É uma doença predominantemente da infância, benigna e altamente contagiosa, provocada pela infecção primária do vírus varicela-zoster. Sua transmissão ocorre de pessoa a pessoa, através de contato direto com mucosas, lesões ou por partículas respiratórias. O exantema é caracterizado por máculas eritematosas e pruriginosas que evoluem para pápulas, vesículas com fluído claro e crostas. Surge habitualmente 14 dias após exposição, iniciando-se pelo couro cabeludo, face e tronco, podendo estar presente nas mucosas. Complicação acontecem em crianças imunossuprimidas através de infecções bacterianas. O tratamento destina-se a aliviar os sintomas. A principal forma de prevenção da varicela é a vacinação.

Imagem: www.drakeillafreitas.com.br

Eritema Infeccioso

Causado pelo Parvovírus B19, o contágio acontece por meio de gotículas. A doença inicia-se com sintomas prodrômicos inespecíficos semelhantes aos da gripe: febre, rinorreia, cefaleia, mialgias, astenia, náuseas e diarreia. O exantema evolui caracteristicamente em três estágios: (1) exantema facial maculopapular em regiões malares (face esbofeteada) e palidez perioral; (2) lesões maculopapulares em membros, de aspecto rendilhado; (3) exantema recidivante se exposição ao sol, calor, estresse ou exercício.

Foto: www.msdmanuals.com/pt-br/


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Saiba mais

Texto aprovado pela coordenadora do Multiplica PP – dra. Giovana Camargo.

Referências bibliográficas:

Doenças Exantemáticas em Idade Pediátrica – Revisão Teórica – Aida Correia de Azevedo, Ana Sofia Gomes, Ana Sofia Rodrigues, Filipa Pinto, Joana Figueirinha, Sónia Carvalho, Fernanda Carvalho, José Gonçalves Oliveira – Associação Pediátrica do Minho
https://web.archive.org/web/20201125092455id_/https://apminho.com/images/pdf/2020/02.Doen%C3%A7as%20exantem%C3%A1ticas%20em%20idade%20pedi%C3%A1trica_revis%C3%A3o%20te%C3%B3rica.pdf

Abordagem Diagnóstica das Doenças Exantemáticas na Infância – Josenilson Antônio da Silva,  Raquel Ferreira, Amani Moura Hamidah, Vitor Laerte Pinto Junior  – Universidade Católica de Brasília – Revista de Medicina e Saúde de Brasília – 2012
https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/handle/icict/42356/ve_Josenilson_Silva_etal.pdf?sequence=2&isAllowed=y

Doenças Exantemáticas da Infância com Manifestações Orais – Nídia Verónica Abreu da Silva – Universidade do Porto – Faculdade de Medicina Dentária – 2010
https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/61035/2/monografia%20nidia%20silva.pdf

Manifestações Orais de Doenças Exantemáticas Infantis – Mara Patrícia Carreiras Ramos – Universidade de Lisboa – Faculdade de medicina Dentária – 2016
https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/26224/1/ulfmd06028_tm_Mara_Ramos.pdf

https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1371/doencas_exantematicas_na_infancia.htm

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